quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Mesa de debate: “Alfabetização: Tensões e contradições na transição entre Educação Infantil e Ensino Fundamental”

Nosso segundo debate ocorreu no dia 20 de Setembro no Teatro do Campus Tijuca II do Colégio Pedro II sob o título “Alfabetização: tensões e contradições na transição entre Educação Infantil e Ensino Fundamental”. A mesa foi composta pelas professoras Vera Moura da Educação Infantil do Pedro II Realengo; Nélia Macedo do Ensino Fundamental do Pedro II Engenho Novo e Patrícia Corsino professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A professora Vera Moura iniciou o evento compartilhando suas experiências com práticas de leitura e escrita na Educação Infantil em suas turmas de crianças de 3 e 5 anos. Pontuou a perspectiva da escola como um lócus de transmissão de conhecimento e alertou para a especificidade do trabalho na primeira etapa da educação básica quando famílias perguntam sobre o lugar alfabetização na primeira infância. Diante dessa tensão, lançou a seguinte provocação: Como nós, professoras da Educação Infantil, respondemos a essas questões? Como nós respondemos ao que não é da nossa alçada? Segundo a professora, o objetivo da Educação Infantil não é alfabetizar, mas possibilitar um encontro com as múltiplas linguagens, incluindo a leitura e a escrita.
Em seguida Vera trouxe relatos de experiências de trabalhos orientados pela perspectiva da pedagogia de projetos, no qual pode exemplificar como as diferentes linguagens "aborda", "trata" o conhecimento na educação infantil, sobretudo o conhecimento escrito. Destacou como os registros escritos e a leitura atravessam/perpassam a rotina das crianças, quais foram os percursos, as descobertas....
Para falar das práticas no primeiro ano do ensino fundamental, a professora Nélia Macedo compartilhou algumas de suas práticas de acolhimento das crianças egressas da Educação Infantil. O que eles sentiam quando chegavam? O que é parecido e o que é muito diferente de suas experiências na Educação Infantil? Foram algumas das perguntas que nortearam a professora na escuta das expectativas das crianças que vinham de contextos diversos, principalmente pela condição de sorteio como ingresso ao primeiro ano. Observou que a fala das crianças se confundiam com as expectativas dos adultos. “Agora eu vou aprender”- respondeu uma criança. “Antes a gente só brincava” – disse outra. Nessa proposta de ouvir as crianças relatou que elas chegaram querendo muito trabalho em folhas, desejando prova. A partir dessas respostas, começou um trabalho de desconstrução e de entendimento das crianças sobre o lugar da aprendizagem. Chamou atenção para o desenho de uma criança que representou a sala de aula enfileirada quando propõe uma organização em grupos nesse espaço. Sobre os sentimentos das crianças ao chegar algumas respostas traziam o medo de se perderem, a saudade dos amigos e o medo das professoras brigarem.
Na construção da rotina com o primeiro ano, Nélia destaca os itens de continuação para que as crianças não sentissem tanto a ruptura de um segmento para o outro com a presença de jogos, brincadeiras, massinha, etc. Destacou que nesse trabalho de alfabetização não abre mãos de dois momentos diários: A roda de conversa para o compartilhamento de experiências e a contação de histórias.  Também comentou que opta pelo uso da letra bastão no trabalho de apropriação da leitura e da escrita.
A última fala do debate ficou com a professora e pesquisadora Patrícia Corsino trazendo pontos que dialogavam com a instituição do Colégio Pedro II e o lugar da escola ontem e hoje.  Conservação e renovação, reprodução e emancipação, lousa e tela, pedagogia da transmissão e pedagogia da participação.  Pensando na construção de contextos educativos complexos e um ambiente relacional, a professora faz sua aposta na pedagogia da participação.  Apesar dos desafios imbricados nessa pedagogia, Patrícia Corsino afirmou que não podemos subestimar o espaço de participação das crianças. Ao discutir a especificidade da Educação Infantil colocou três princípios: a ludicidade, a continuidade e a significatividade. Tais princípios, segundo a professora, se articulam aos eixos brincar e interagir, conforme descrevem as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (2009). Anunciou que é possível pensar o Ensino Fundamental a partir dos três princípios e dos eixos da Educação Infantil.
Na Educação Infantil, com os campos de experiências, o currículo gira em torno das brincadeiras, interações e objetivos amplos. Já o Ensino Fundamental, com áreas de conhecimentos, o currículo gira em torno dos conteúdos e objetivos específicos. Patrícia Corsino sinalizou que uma das grandes diferenças entre EI e EF é a sistematização, mas, no entanto, ambos estão lidando com crianças e suas infâncias. É a infância que não cabe com 6 anos? Nesse sentido, define o professor da EI e do primeiro segmento do EF como um sujeito que brinca, que se deixa afetar. Questionou a repetição do termo “escuta” em diferentes contextos trazidos de maneira superficial e afirmou que essa escuta precisa ser de corpo inteiro.
Ao trazer para a discussão o trabalho com a leitura e a escrita enfatizou a potencialidade dos registros dos projetos, das propostas na EI, em sua capacidade de reflexões diversas. Além disso, chamou atenção para a fala da autoridade da EI. Comparou o discurso do médico onde há pouca desconfiança com o discurso fragilizado do professor da Educação Infantil onde todos dão palpites. Ressaltou que é preciso ter a argumentação na ponta da língua para esse processo de defesa e convencimento de uma especificidade de trabalho. Acredita que os responsáveis pelas crianças tem que ir à escola muitas vezes e em diferentes contextos para que esse processo aconteça. Diante de uma pergunta da plateia sobre métodos de alfabetização na Educação Infantil, Patrícia Corsino respondeu: “Compre livros para seu filho. Leia para ele. Leia com ele. Leia com afeto. Se você fizer isso, não precisa fazer mais nada.”

(Registrado por Débora de Lima do Carmo)





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