Nosso
segundo debate ocorreu no dia 20 de Setembro no Teatro do Campus Tijuca II do
Colégio Pedro II sob o título “Alfabetização:
tensões e contradições na transição entre Educação Infantil e Ensino
Fundamental”. A mesa foi composta pelas professoras Vera Moura da Educação
Infantil do Pedro II Realengo; Nélia Macedo do Ensino Fundamental do Pedro II
Engenho Novo e Patrícia Corsino professora e pesquisadora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
A
professora Vera Moura iniciou o evento compartilhando suas experiências com
práticas de leitura e escrita na Educação Infantil em suas turmas de crianças
de 3 e 5 anos. Pontuou a perspectiva da escola como um lócus de transmissão de
conhecimento e alertou para a especificidade do trabalho na primeira etapa da
educação básica quando famílias perguntam sobre o lugar alfabetização na
primeira infância. Diante dessa tensão, lançou a seguinte provocação: Como nós,
professoras da Educação Infantil, respondemos a essas questões? Como nós
respondemos ao que não é da nossa alçada? Segundo a professora, o objetivo da
Educação Infantil não é alfabetizar, mas possibilitar um encontro com as
múltiplas linguagens, incluindo a leitura e a escrita.
Em seguida Vera trouxe relatos de experiências de trabalhos orientados pela perspectiva da pedagogia de projetos, no qual pode exemplificar como as diferentes linguagens "aborda", "trata" o conhecimento na educação infantil, sobretudo o conhecimento escrito. Destacou como os registros escritos e a leitura atravessam/perpassam a rotina das crianças, quais foram os percursos, as descobertas....
Para
falar das práticas no primeiro ano do ensino fundamental, a professora Nélia
Macedo compartilhou algumas de suas práticas de acolhimento das crianças
egressas da Educação Infantil. O que eles sentiam quando chegavam? O que é parecido
e o que é muito diferente de suas experiências na Educação Infantil? Foram
algumas das perguntas que nortearam a professora na escuta das expectativas das
crianças que vinham de contextos diversos, principalmente pela condição de
sorteio como ingresso ao primeiro ano. Observou que a fala das crianças se
confundiam com as expectativas dos adultos. “Agora eu vou aprender”- respondeu
uma criança. “Antes a gente só brincava” – disse outra. Nessa proposta de ouvir
as crianças relatou que elas chegaram querendo muito trabalho em folhas,
desejando prova. A partir dessas respostas, começou um trabalho de
desconstrução e de entendimento das crianças sobre o lugar da aprendizagem.
Chamou atenção para o desenho de uma criança que representou a sala de aula
enfileirada quando propõe uma organização em grupos nesse espaço. Sobre os
sentimentos das crianças ao chegar algumas respostas traziam o medo de se perderem, a saudade dos amigos e o medo das professoras brigarem.
Na
construção da rotina com o primeiro ano, Nélia destaca os itens de continuação
para que as crianças não sentissem tanto a ruptura de um segmento para o outro
com a presença de jogos, brincadeiras, massinha, etc. Destacou que nesse
trabalho de alfabetização não abre mãos de dois momentos diários: A roda de
conversa para o compartilhamento de experiências e a contação de histórias. Também comentou que opta pelo uso da letra
bastão no trabalho de apropriação da leitura e da escrita.
A
última fala do debate ficou com a professora e pesquisadora Patrícia Corsino
trazendo pontos que dialogavam com a instituição do Colégio Pedro II e o lugar
da escola ontem e hoje. Conservação e
renovação, reprodução e emancipação, lousa e tela, pedagogia da transmissão e
pedagogia da participação. Pensando na
construção de contextos educativos complexos e um ambiente relacional, a
professora faz sua aposta na pedagogia da participação. Apesar dos desafios imbricados nessa pedagogia,
Patrícia Corsino afirmou que não podemos subestimar o espaço de participação
das crianças. Ao discutir a especificidade da Educação Infantil colocou três
princípios: a ludicidade, a continuidade e a significatividade. Tais
princípios, segundo a professora, se articulam aos eixos brincar e interagir,
conforme descrevem as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil
(2009). Anunciou que é possível pensar o Ensino Fundamental a partir dos três
princípios e dos eixos da Educação Infantil.
Na
Educação Infantil, com os campos de experiências, o currículo gira em torno das
brincadeiras, interações e objetivos amplos. Já o Ensino Fundamental, com áreas
de conhecimentos, o currículo gira em torno dos conteúdos e objetivos específicos. Patrícia
Corsino sinalizou que uma das grandes diferenças entre EI e EF é a
sistematização, mas, no entanto, ambos estão lidando com crianças e suas
infâncias. É a infância que não cabe com 6 anos? Nesse sentido, define o
professor da EI e do primeiro segmento do EF como um sujeito que brinca, que se
deixa afetar. Questionou a repetição do termo “escuta” em diferentes contextos
trazidos de maneira superficial e afirmou que essa escuta precisa ser de corpo
inteiro.
Ao
trazer para a discussão o trabalho com a leitura e a escrita enfatizou a
potencialidade dos registros dos projetos, das propostas na EI, em sua
capacidade de reflexões diversas. Além disso, chamou atenção para a fala da
autoridade da EI. Comparou o discurso do médico onde há pouca desconfiança com
o discurso fragilizado do professor da Educação Infantil onde todos dão
palpites. Ressaltou que é preciso ter a argumentação na ponta da língua para
esse processo de defesa e convencimento de uma especificidade de trabalho.
Acredita que os responsáveis pelas crianças tem que ir à escola muitas vezes e
em diferentes contextos para que esse processo aconteça. Diante de uma pergunta da plateia
sobre métodos de alfabetização na Educação Infantil, Patrícia Corsino respondeu: “Compre livros para seu filho. Leia para
ele. Leia com ele. Leia com afeto. Se você fizer isso, não precisa fazer mais
nada.”
(Registrado por Débora de Lima do Carmo)
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